Nossa Atitude Diante de Deus
Padre Luiz Fernando
Leitura: Lucas 18, 9-14
Salmo: 51 (50)
Introdução: Lendo a parábola de hoje, corremos o risco de
perdermos o ensinamento que Jesus nos quer transmitir, porque talvez nos
identifiquemos com o personagem errado. Temos certeza que não temos nada a
prender com o fariseu antipático, orgulhoso e vaidoso, que despreza os outros e
que se julga justo, sem o ser de verdade. Todas as nossas simpatias são para o
publicano, que coitado, teve sim alguns deslizes, mas tem um coração de ouro,
está arrependido e, portanto, merece o perdão. Assim nos convencermos de que
esta parábola é para os outros, para aqueles que, ao invés, não sentem aversão
que nós sentimos pelo fariseu. Tentemos, pois, entender bem as coisas, porque a
parábola talvez não seja tão simples como pensamos.
MENSAGEM
1 – Quem era o fariseu? – Um hipócrita? Não! Leiamos atentamente os
versículos 11-12: era uma pessoa correta, íntegra, honesta. Observa fielmente
os preceitos da lei de Deus, evitava todos os pecados (os frutos, as
injustiças, os adultérios) e fazia mais do que está escrito na lei. Veja:
Levítico 16, 29 – sobre o jejum. Deuteronômio 14, 22-27 – sobre o dízimo.
Procurem
alguma falha nesse homem! Nem o próprio Deus conseguiria descobrir nele alguma
transgressão! É certo que se sinta envaidecido pela sua retidão e desprezava os
pecadores..., masvocês acham que são faltas graves assim? Não tinha, por acaso,
mil motivos para sentir-se diferente dos outros? Tomara todos fossem como ele:
honestos, justos, irrepreensíveis! Todos nós lhe perdoaríamos generosamente
alguma ponta de orgulho.
2 – Quem era o publicano? – De forma alguma era otipo humilde e bondoso que
estamos imaginando. Era um ladrão diplomado, um explorador. Não roubava os
ricos, mas sangrava os pobres: impunha impostos exorbitantes aos mais pobres
dentre os lavradores; aos que não tinham nem o pão para suas crianças. A lei
dizia que para se salvar um publicano deveria restituir tudo o que roubou e
mais 20% de juros, e, ainda deveria abandonar imediatamente a sua profissão.
Condições tão difíceis de serem cumpridas que os rabinos concordavam em afirmar
que para os publicanos, a salvação era praticamente impossível. Pelo que
sabemos o homem não fez nem uma coisa nem outra. E agora, de que lado estamos?
3 – A sentença de Jesus: - “Eu afirmo a vocês que foi este homem (cobrador de
impostos), e não o outro, que voltou para a casa em paz com Deus”. (versículo
14). Não parece injusta a sentença de Jesus? Quem se comportou bem é condenado
e o pecador é declarado justo! É uma sentença que inverte todos os nossos
critérios de justiça. Como é possível explicar uma coisa dessas? Atenção! A
inversão de julgamento não diz respeito ao comportamento moral dos dois. Jesus
não afirma que o publicano era bom e o farisei malvado e mentiroso, só afirma
que o primeiro “foi justificado” (versículo 14), isto é, tornou-se justo pelo
poder de Deus, ao passo que o segundo, voltou para a casa como antes, com suas
boas obras, mas sem que Deus conseguisse justificá-lo. Esta é a questão.
Não são as
boas obras que nos justificam. Estas são unicamente o sinal que o Senhor
justificou. São como frutos que revelam que a árvore está rigorosamente viva.
Diante de Deus, o homem está de mãos vazias, não pode exibir nada de si, não
possui nada que o torne digno da complacência divina. O fariseu não é uma
pessoa má, é só simplória, como uma criança que apresenta ao pai um presente
que ganhou e espera, com isso, comprar um presente mais valioso. O publicano
não deve ser considerado como um modelo de vida virtuosa. Ele é somente a
imagem da única atitude certa que o homem deve assumir diante de Deus. É o
pobre que sabe oferecer a Deus só o seu coração. “humilde e arrependido, que –
como diz o salmo – o Senhor não despreza” (Salmo 51(50), 19). É o faminto que é
saciado de bens, enquanto o rico volta de mãos vazias (Lucas 1, 53).
CONCLUSÃO: A última frase: “Porque quem se engrandece será humilhado, e quem se
humilha será engrandecido”. (versículo 14b) parece insinuar que Deus faz
desfeitas para quem se comportou melhor do que os outros. Mas não é assim,
“quem se exalta” não é orgulhoso, mas aquele que confia nos próprios méritos.
Aquele que se achar melhor do que os outros, se não quiser ficar de mãos
vazias, deve aceitar ser pequeno, pobre entre os pobres, devedor entre os
devedores. Quando tiver assumido essa atitude estará em condições de ser
favorecido pelos dons do Espírito Santo, como aconteceu com Maria, a pobre, a
humilde serva na qual o Senhor operou obras maravilhosas (Lucas 1, 48-49).
PERGUNTAS
1) Qual atitude devemos ter diante de Deus, para receber seu perdão e seus dons?
2) Como podemos nos tornar humildes diante de Deus?